sexta-feira, julho 30, 2004

Dejate querer

Quando a vida nos tira a alegria e o calor, é altura de abrir o coração e deixar entrar o sol para apagar as mágoas!

Não o fazemos por vezes na salsa? Quando uma salsa corre mal, procuramos na seguinte abrir-nos e fazer com que o amargo se dilua.

Esta bonita ideia, este bonito sentimento, surgiu-me ao ouvir uma salsa: "Dejate querer", letra que quero aqui colocar e que levo em mim durante este fim de semana.

Te robaron tu alegría,
tu sonrisa, tu calor;
Te robaron tu confianza,
tu sentido del humor,
Tu cariño, tu autoestima,
tu ternura, tu carisma
Todo aquello que una vez me enloqueció
Y ahora cargo el pecado
de quien hirió tu pasado,
de quien robó de tus ojos
ese brillo de ilusión
Déjate querer
déjate adorar
yo voy a borrar de ti ese mal sabor
Y al amanecer, vuelve a despertar
que no quede rastro en ti de ese mal sabor
Te robaron tu nostalgia,
tus recuerdos, tu querer,
Te robaron tu inocencia,
Y tu esencia de mujer;
Tu tranquilidad, tu calma,
la pureza de tu alma todo aquello
que una vez me enloqueció
Y ahora cargo el pecado
de quien hirió tu pasado,
de quien robó de tus ojos
ese brillo de ilusión
Déjate querer
déjate adorar
yo voy a borrar de ti ese mal sabor
Y al amanecer, vuelve a despertar
que no quede rastro en ti de ese mal sabor

quarta-feira, julho 28, 2004

100% salseiro?

O que faz um(a) salseiro(a) completo(a)?
O conhecimento técnico, a improvisação, a interpretação, o ritmo, a condução, a alegria? Certamente que a resposta reside numa combinação equilibrada destes e doutros factores. Mais ainda, este equilíbrio deve ser dinâmico! Ou seja, adaptar-se ao par e à música.

Cada um de nós, na salsa como na vida, tentamos fomentar ao máximo as àreas que dominamos bem, esquecendo, escondendo, desvalorizando aquelas em que temos dificuldades e/ou não dominamos...

Na salsa este problema surge com maior nitidez do que no nosso dia a dia. Veja-se:

O salseiro que domina aceitavelmente a técnica mas tem dificuldade em improvisar, em soltar-se, terá tendência a aperfeiçoar a sua técnica para colmatar a falta dos outros parâmetros; terá tendência em escolher músicas mais rápidas onde os passos sucedem-se a tal velocidade que a falta de improvisação e de interpretação passam facilmente desapercebidas.

O salseiro que basicamente "inventa" com pouco conhecimento técnico terá tendência a exagerar ao máximo essa faceta para esconder a falta de movimentos bem delineados e tecnicamente correctos... Provavelmente, escolherá salsas mais românticas para poder dar largas à interpretação.

Descrevo apenas dois dos casos mais antagónicos; haverá muitos outros. No entanto, os pontos que quero realçar são as desvantagens para o próprio e para o par...

Para o par, pois para além de ser menos agradável dançar uma salsa menos adaptada às características do seu par, pode ser perigoso. Ao tentar exagerar as nossas vantagens e esquecendo-nos das nossas insuficiências , facilmente podemos lesionar o par: ao fazer passos cada vez mais complicados, uns a seguir aos outros, qualquer falha do par pode resultar numa lesão; se inventamos ininterruptamente, acabamos por fazer um movimento errado e a lesão surge.

Para o próprio, pois não é escondendo as nossas insuficiências que elas desaparecem. É enfrentando-as que as podemos superar... Extrapolando (talvez não muito...), o salseiro "técnico" é metódico no seu dia a dia, mas falta-lhe alguma capacidade de improvisação e imaginação para lidar com situações novas. O salseiro "inventivo" é um desenrascado mas talvez com dificuldades de organização e método.

Porque não aproveitar a salsa, onde não há competição (ou não devia haver?!) e não colocamos o nosso emprego em perigo se falharmos ou admitirmos um erro para tentarmos tornar-nos mais equilbrados... mais ricos.

A ciência avança porque faz testes em laboratório, erra, corrige e evolui. A salsa... pode ser o laboratório da nossa vida...

quinta-feira, julho 22, 2004

A atitude do sonero

Hoje (como quase sempre) tenho passado o dia a ouvir salsa! Apetece-me escrever um pouco sobre a notória relação entre a letra e a música...

Esta relação excede o mundo da salsa, mas julgo que excede também o mundo da música e pode aplicar-se ao meu dia a dia. Uma salsa (ou son) mais lenta, mais sensual bem como uma salsa (ou son) rápida e enérgica, têm sempre uma letra a condizer. Nada como dar dois bons exemplos:
Salsa rápida e enérgica: Ray Barretto - Indestructible
Salsa lenta, sensual: Compay Segundo - Morir de Amor

Não consigo imaginar a letra do Morir de Amor numa salsa rápida, nem a enérgica letra do Indestructible num son bem sensual... Até aqui tudo bem... A ligação que eu faço é a seguinte: sendo eu o sonero da minha vida, quantas vezes terei bloqueado um momento de grande energia ao vivê-lo de forma mais lenta e pausada ou por simples letargia? Quantas vezes terei desperdiçado um momento íntimo e envolvente por um excesso de energia ou por querer vivê-lo a correr?

Ao ouvir uma música atrás da outra, tento sentir a harmonia entre ritmo e letra; ao viver um momento após o outro, serei capaz de ter a atitude do sonero?


quarta-feira, julho 21, 2004

"TOU"

Lembrei-me hoje daqueles autocolantes que nos invadiram aqui há uns anos: os "Tou". Tipo "Tou zangado", "Tou apaixonado", "Não Tou", etc...

Seria boa ideia arranjar uns autocolantes versão salseira. "Tou salsa", "Tou Kizomba", "Tou no 2", "Tou queda"...

A brincar a brincar, cada dia poderia ter um (por vezes mais) estado de espírito correspondente. Consoante o nosso estado de espírito, o tipo de música correspondente!
Ontem, por exemplo, estava cheio de energia, claramente um "Tou salsa", especificamente um "Tou El Corazon me Hace Clave", salsa cheia de pica!
E.... ao longo da vida... amores, desamores, estudos, trabalho, alegrias, tristezas, quais os sentimentos que têm pautado a minha vida... quais as salsas correspondentes?... o nascimento de um novo programa TV: "A minha vida dava um CD"   :D

Eu, hoje, definitivamente, "Tou Bachata".

segunda-feira, julho 19, 2004

Pensamento

A salsa faz-me sentir melhor comigo próprio
Sentir-me melhor comigo próprio faz-me sentir melhor com a vida
Sentir-me melhor com a vida faz-me feliz
Sentir-me feliz torna o mundo à minha volta num mundo melhor
Será a salsa a chave da felicidade?
Não... mas pode ser a chave da MINHA felicidade.

quinta-feira, julho 15, 2004

A esfera da intimidade

Uma das interessantes características da salsa é a permeabilização do nosso espaço. Dia após dia, ano após anos, é costume transformar a nossa esfera de intimidade (o espaço que nos rodeia) numa rígida jaula. O contacto com outros é regra geral bastante reduzido. Ora, tal como todos os nossos outros sentidos, o tacto é parte integrante do nosso ser.

É também através do tacto que conhecemos melhor os outros, que nos relacionamos com eles. O tacto também se desenvolve, educa e evolui.

A nossa esfera de intimidade, muitas vezes tornada rígida e inflexível, descobre na salsa um novo mundo onde o tacto se torna uma moeda de troca.

Quando muitas vezes só alguém por nós eleito penetra a nossa esfera de intimidade, ao dançar descobrimos uma nova forma de permeabilização. Interagir com o par de forma tão intensa e porém tão desprovida de outras intenções é uma riqueza ímpar.

Nesta perspectiva, a salsa servirá certamente de psicanálise para muitos de nós; uma terapia de grupo, uma ida ao psicólogo.... uma salsa!

Já li muitas vezes “quem dança salsa... é mais feliz”. Verdade!

quarta-feira, julho 14, 2004

Em memória

Faz hoje um ano que o mundo ficou mais pobre.
Faz hoje um ano que faleceu Compay Segundo.




A sua última entrevista:


http://www.embacubalebanon.com/compay13.html

terça-feira, julho 13, 2004

Reflexão sobre dança

Excerto de um texto de Welllen de Barros....

..."A dança humaniza no sentido de tornar real aos olhos humanos o que antes vem a ser apenas som.
Talvez o mais encantador num espetáculo de dança seja a capacidade visual transmitida por um desenho musical que torna visível as emoções contidas numa intenção de se fazer arte incompatível somente com a palavra. A expressão do corpo, na arte de comunicar revela uma verdade intrínseca do ponto de vista "temático". Denis Diderot afirma que dança é um poema"...

...

Neste excerto, gosto particularmente da dança tornar real o que antes era apenas som... ao dançar humanizamos a música, ou seja, tornamos visível pelo nosso movimento o som! É uma imagem que me agrada particularmente, pois é a imagem que costumo buscar ao dançar, embora nunca a tivesse lido anteriormente.

Humanizar o som pelo movimento; como se o som da salsa, ao entrar pelo meus ouvidos, implorasse para ser posto em movimento... Humm... uma imagem que me vai acompanhar nestes dias de calor, em que salsa e sol fazem bem mais sentido que trabalho e ar condicionado...

segunda-feira, julho 12, 2004

Tenho falado sobre viver intensamente cada momento, tanto na vida como na salsa.

Hoje cruzei-me com uma letra de uma música Cubana intemporal.... a Yolanda! Ao ler a letra, senti que o sentimento e o envolvimento descrito é precisamente aquele que procuro em cada salsa.

Viver cada salsa como uma Yolanda, não ficando apaixonado pela música ou pelo par, mas por cada instante que passa.

Yolanda - Pablo Milanês

Esto no puede ser no más que una canción,
quisiera fuera una declaración de amor,
romántica sin reparar en formas tales
que pongan freno a lo que siento ahora a raudales.
Te amo, te amo,
eternamente te amo.

Si me faltaras no voy a morirme,
Si he de morir quiero que sea contigo,
mi soledad se siente acompañada
por eso sé que necesito
tu mano, tu mano,
eternamente tu mano.

Cuando te vi sabía que era cierto,
este temor de hallarme descubierto,
tú me desnudas con siete razones,
me abres el pecho siempre que me colmas
de amores, de amores,
eternamente de amores

Si alguna vez me siento derrotado,
renuncio a ver el sol cada mañana,
rezando el credo que me has enseñado
miro tu cara y grito en la ventana
Yolanda, Yolanda
eternamente Yolanda.



... não será este o sentimento de cada batida da música, de cada movimento da dança? Se não é.... deveria ser!

sexta-feira, julho 09, 2004

Criação ou repetição

A vida é uma constante criação? Ou é apenas uma repetição dos ensinamentos adquiridos?

E a salsa? Há quem tenha aulas de salsa... há quem não tenha... quem vive melhor? aquele que repete exaustivamente os ensinamentos adquiridos ou aquele que, não tendo tido ensinamentos, descobre a sua salsa dia a dia... Quem vive melhor, o executivo no centro da cidade ou o indígena embrenhado numa qualquer floresta?

Não tendo propriamente uma única resposta acertada, esta questão leva-me a pensar como posso encontrar este equilíbrio, se é que ele existe... É costume dizer que no meio é que está a virtude. Posso encontrar um meio termo entre o executivo e o indígena, ou haverá um gume de uma navalha, obrigando-me a colocar-me de um dos lados do gume, não sendo possível encontrar o equilíbrio?

Será que a verdadeira salsa passa por um misto de criação e repetição, ou terá a salsa também um gume aguçado que me obrigue a permanecer de um dos lados?

Ou será que esta linha de pensamento está errada e não existe um gume de navalha, mas sim uma ponte que faz uma transição suave da floresta para a baixa da cidade, das aulas de salsa para a criação espontânea?... Onde está essa ponte? Será que eu a encontro? e consigo percorrê-la?...

quinta-feira, julho 08, 2004

A vida é um poema - A salsa é um poema

Dançar

Correr de um lado para o outro e ficar tonto
Correr tanto, louco de paixão e ficar só
Correr colorido, girar e ficar branco
Magia para dissolver quebranto

Dançar pra ser feliz e entender
Através do movimento o encontro
Passar assim a limpo a vida
Passatempo de santo
Branco, tonto, cheio de amor e encanto

Fred Brasiliense


Música

Ah! A música, a música me inspira,
a música me guia.
O homem escreve a música
e a música descreve o homem,
a música toca o homem,
o homem compõe a música
e o homem, toca a música.
Homem canta a música
e a música encanta o homem,
o homem dança a música
e a música dança no homem.
Os pássaros cantam música
e o homem ouve o pássaro,
o homem canta o pássaro que ouve música.
A música continua a cantar vários homens,
E os homens cantam a terra,
a terra que engole o homem que canta.
A terra cala o homem da música
Mas não cala a música do homem

Rodrigo Teles Calado

quarta-feira, julho 07, 2004

Apaixonar-me continuamente

Dançar cada salsa, viver cada momento da vida é apaixonar-me continuamente. Não por alguém, mas pela intensidade com que se vive cada momento.

A salsa é uma sequência ininterrupta de compassos; há que se apaixonar por cada compasso, em cada compasso...

Há apenas dois momentos na salsa em que não é possível estar apaixonado: um chama-se o compasso anterior, o outro chama-se o compasso seguinte! Este compasso que estou a viver agora é o momento certo para o fazer com paixão e intensidade.

Admito que é mais fácil apaixonar-me pelos momentos que danço do que no dia a dia... mas não será esta uma das principais vantagens da salsa? Levar-me a viver cada vez mais cada momento com paixão? Com intensidade? Levar-me, em primeiro lugar, a aprender a estar continuamente apaixonado por mim?!

Não quero ficar preso a salsas passadas, nem à espera de salsas que virão. Quero viver este compasso intensamente, agora.

terça-feira, julho 06, 2004

Danço como vivo?

Será que posso extrapolar a forma de dançar para a forma de actuar na vida?... será que devo?

Alguém que dança de forma metódica, sem falhar um tempo, com todos os movimentos bem delineados embora sem criatividade será assim no seu dia a dia?

Alguém que não faz dois passos iguais, que troca as mãos em cada compasso e perde constantemente o ritmo será assim no dia a dia?

Alguém que é bruto a conduzir e não tem sensibilidade para com o par será também assim no dia a dia?

Alguém que cria constantemente, que se deixa levar a si e ao seu par para outra dimensão, será também assim no dia a dia?

Bem, na minha opinião, a extrapolação da dança para a vida do dia a dia faz muito sentido. Sou a mesma pessoa, com as mesmas dúvidas e as mesmas certezas, só que inserido num meio específico enquanto danço... que torna por vezes a gaiola de vidro um pouco mais transparente aos olhos e à alma.

.... como é que eu danço?!..... como é que tu danças?!.....

segunda-feira, julho 05, 2004

Gaiola de vidro

Ontem li um poema intitulado "Gaiola de Vidro". Transmite a ideia de que vivemos cada um dentro de uma gaiola de vidro, ou seja, interajimos com todos, mas por um lado estamos fechados dentro da nossa gaiola e por outro lado ela é de vidro, tornando a nossa vida fechada numa montra para onde todos espreitam incessantemente...

Independentemente de eu concordar total ou parcialmente com a ideia deste poema, posso facilmente fazer o paralelo com a salsa:

Dançar é também estar numa gaiola de vidro. Por um lado, enquanto danço estou sempre dentro da minha gaiola. Verdade é que ao dançar a gaiola fica entreaberta, quiça quase completamente aberta, mas uma gaiola aberta é sempre uma gaiola. Por outro lado, embora eu possa estar a dançar com o meu par de forma absorvida, estou sempre sujeito aos olhares de fora que teimam em não se desviar... Dançar é também uma gaiola de vidro.... Será?!

sexta-feira, julho 02, 2004

Estarei hoje melhor que ontem?

Como é que eu posso saber se hoje estou a dançar melhor que ontem? Seguramente, analisando o reflexo nas pessoas com quem se dança. São elas que podem aferir a intensidade, o envolvimento e a dedicação que coloco na salsa... Se eu dançar intensamente mas esquecer a pessoa com quem estou a dançar, isso apenas significa que estou a regredir e não a progredir.

Na vida, é também através do feedback das pessoas com quem interajo que posso aferir o meu envolvimento na vida...

É um erro crasso, olhar para o meu umbigo e dizer: "hoje estou melhor que ontem"; devemos dar ouvidos ao que nos rodeia...

Na vida, como na salsa, é fundamental comparar aquilo que recebo do exterior com aquilo que sinto dentro de mim. Desta forma, posso concluir se estou a dançar melhor ou pior do que penso...

Muitas são as vezes que por nos embrenhar-mos a fundo em algo, chegamos depois à conclusão que nos fechamos sobre nós próprios e não demos ouvidos ao mundo, à música; e a única coisa que aconteceu foi ter ficado mais isolado e afastado do caminho certo.

Por isso, tento ouvir a música, sentir a pessoa com quem danço, sentir o ritmo, sentir o espaço à minha volta e sentir o meu coração bater!

quinta-feira, julho 01, 2004

La música no puede parar

Esta é uma das frases que se ouve frequentemente nas salsas que por aí se dançam...

La música, bem como a vida... não pode parar! O caminho é sempre para a frente! E cada passo que damos apoia-se no anterior.

Se hoje estou mais fraco e dou um passo menos bem conseguido, o de amanhã terá de apoiar-se neste..

Ao dançar, se faço um passo menos bem conseguido, a música não pára e tenho de encadear o próximo passo neste, por vezes com algum desequilíbrio, por vezes ligeiramente fora de tempo, mas a dança "no puede parar".

Na salsa, tal como na vida, tenho de estar alerta e viver intensamente cada compasso, cada batida da música; se me alheio da música e da dança porque tenho preocupações na cabeça, posso correr o risco de chegar ao fim da música e não ter dançado nada.

Na salsa, tenho sempre a próxima música para corrigir; na vida não!

"Vive cada batida da música intensamente".