terça-feira, setembro 28, 2004

Para ti, minha Rumba

Dançar contigo é a rumba da minha vida
São uns breves momentos eternos
É um ritmo que toma conta de mim
E me fustiga com prazer

Agora penso nos momentos que dançamos
Serão um sonho que animam a plácida vida
Ou serás tu a minha vida, sendo o resto um sonho
que apazigua a minha alma

Rumba, rumbera, quero dançar-te
Quero celebrar-te e sentir o teu ritmo
Harmonizar o meu ritmo com o teu
O toque da batida, o toque do teu toque
Tocam-me tão fundo e tão fora de mim

Rumba, rumbera, minha vida onde estás?

quarta-feira, setembro 22, 2004

A vida será incontornavelmente erótica?

"O primeiro ornamento jamais aparecido - convém saber que foi a cruz - era de origem erótica. A primeira obra de arte, o primeiro gesto erótico através do qual o primeiro artista deu largas à sua exuberância, ao pintalgar uma parede, era erótica. Uma linha horizontal, era a mulher estendida; uma linha vertical, o homem que a penetra... Mas, aquele que na nossa época possui ainda qualquer compulsão interna que o impele a macular as paredes de símbolos eróticos, esse é um criminoso ou um degenerado... Presentemente, a ornamentação já não está organicamente ligada à civilização e já não é, por conseguinte, uma expressão da nossa civilização"
G. Néret

Será que estamos verdadeiramente desligados do erotismo? Ou será que o escamoteamos cada vez mais por necessidades sociais? Será que dançamos salsa por puro prazer ou será que é apenas uma forma de deixarmos escorrer o erotismo que ferve no nosso íntimo?

Será a vida incontornavelmente erótica?

sexta-feira, setembro 10, 2004

Dilatar o tempo

Ao dançar, um dos conceitos com que rapidamente nos familiarizamos é o tempo... No início, muitas vezes estamos presos aos tempos, tentado desesperadamente mexer um pé em cada tempo da música.

A pouco e pouco, deixamos esta forma digital de encarar a música e começamos a sentir o “tempo entre cada tempo”. Ao sentirmo-nos mais à vontade com os passos de salsa e com o nosso corpo, vamos tirando cada vez mais proveito do tempo... do tempo entre cada tempo. Em vez de colocar mecânica e apressadamente o pé para o lado, descobrimos que o podemos arrastar, aproveitando a plenitude do tempo para tornar o passo mais confortável, mais agradável. Começamos a dilatar o tempo. Aquela volta que fazíamos de forma sistemática de repente torna-se numa dupla volta, em que ainda sobra tempo para sorrir e pegar delicadamente na mão do nosso par. Um son, uma kizomba, podem tornar-se numa eternidade mágica.

Dilatar o tempo... não é isso que torna aquela salsa, aquele son, aquele danzón, aquela kizomba tão especial? A forma como um pequeno movimento parece prolongar-se por uma doce eternidade, em que temos tempo de nos abandonar antes da batida seguinte da música?...

Na salsa, como na vida, a dilatação do tempo é um conceito fundamental. De um ponto de vista bem mais prático, mas também bem mais crítico, a dilatação do tempo é aplicada desde sempre. Ao longo da história, e talvez mesmo antes desta, há relatos de feitos conseguidos através da dilatação do tempo... Pessoas que evitaram acidentes de automóveis porque naquela fracção de segundo tiveram tempo de fazer uma análise detalhada da situação e tomar a decisão certa... Prisioneiros de guerra que resistiram à tortura por conseguirem, entre cada choque eléctrico ou cada chicotada, prolongarem o tempo de forma a deixarem passar a dor, desfrutarem o momento e prepararem-se calmamente para a próxima... Os exemplos são muitos, a ideia central a mesma.

Dilatar o tempo será uma capacidade que todos nós podemos desenvolver e aplicar nas mais diversas situações do dia a dia. Nas mais críticas, mas também nas mais “sabrosas”.

Prefiro deixar de lado a ideia da tortura ;) centrando a dilatação do tempo na salsa. O tempo sempre foi e sempre será um conceito relativo. Há algum tempo atrás, curiosamente numa festa de salsa, vi escrita a seguinte frase num WC, naqueles pequenos painéis publicitários que por lá proliferam:

“O tempo que demora a passar um minuto depende de que lado da porta da casa de banho estamos”.

Embora de conteúdo menos artístico, esta frase é para mim uma das que melhor descreve este conceito milenar.

Um salsa, apesar de rápida pode ser dançada com muita calma. Um son, apesar de lento pode ser um stress. O tempo é aquilo que fazemos dele. O ritmo da salsa é elástico e é no seu aproveitamento que reside um dos prazeres da salsa!

Dilatar o tempo; dilatar o prazer.

quinta-feira, setembro 02, 2004

A vida de uma salsa

AAAhhhhhh.....A primeira batida...

Terei nascido? sinto-me a vibrar
Os meus órgãos entram em acção
Sinto as cordas, os sopros, a voz, as batidas
A despertarem numa harmonia perfeita

Quem são aqueles seres, que assim que nasci
Pousam os copos, levantam-se, entreolham-se
Quem são aqueles seres, que atravessam o espaço
Sorriso rasgado e juntam-se dois a dois
Terei nascido para os reconciliar?...
O movimento do meu corpo fá-los moverem-se ao meu ritmo
Não restam dúvidas, juntam-se para celebrar o meu nascimento

Brinco com eles, altero o meu ritmo e eles alteram o deles
Movo-me entre o som de todos os meus instrumentos
Fazendo-os vibrar a meu gosto
Que bem que sabe esta harmonia esta partilha de prazer
Que sinergia eu crio com estes seres
Viverei para eles ou vivem eles para mim
O momento é de magia, beleza e sedução
Todo o espaço que nos rodeia vibra de emoção

Pouco a pouco, o meu som vai baixando
O meu sorriso dilui-se no espaço
E eles, meus seres, terminam num crescendo de emoção
Que vida intensa vivi...

Que magnífico ser celebrada à nascença e na morte. Obrigada.

Adeus.