quarta-feira, agosto 25, 2004

Comunhão com o corpo

Já a propósito de um outro assunto, levantei a questão da comunhão com o nosso corpo. Não deixa de ser incrível a forma como vivemos o nosso dia a dia dissociados dele; o tal exemplo clássico que diz que só pensamos nos pés quando eles doem! Não quero dizer que não cuidemos do nosso aspecto exterior... Vamos ao ginásio porque achamos que ficamos mais bonitos, apanhamos sol para ficarmos mais sexys, pomos piercings no umbigo, fazemos penteados “fashion”, rapamos os pelos, fazemos dietas, enfim, um sem número de operações de “marketing de imagem”. Mas.... e o corpo? Quantos não têm cuidados com o carro que não têm com o corpo? Verificam o óleo, a pressão dos pneus, fazem as revisões certinhas... que inveja o corpo deve ter por vezes... O corpo... quando avariar, nessa altura, lá vai à “oficina”.

Os motivos desta dissociação parecem-me simples e evidentes. Cada vez mais a sociedade nos afasta do nosso corpo. Ainda no outro dia li algures que até as crianças estão afectadas por este síndrome de dissociação corporal: em vez de estarem na rua a jogarem à bola, aos pontapés e abraços uns aos outros, jogam Championship Manager na Playstation... é a este ponto que estamos dissociados do corpo...

Aqui entra a salsa!

Sentir a música. O ritmo que nos entra pelo corpo e o faz vibrar. Dançar. O corpo solto ao som da música com a mente apenas a supervisionar. O par. A comunicação subtil com um simples toque de mãos. A salsa. A harmonia de todos estes elementos. A comunhão com o corpo. A redescoberta do nosso ser. Sentir o prazer de sentir o nosso corpo. Sentir que não há limites para esta comunhão. Poder partilhar esta constante descoberta com o par com que estamos a dançar. Momentos mágicos. Momentos intensos. E para dar continuidade a este banho de sensações: venha a salsa seguinte!

Há outras formas de me reencontrar? Certamente que sim, mas a salsa é uma delas e dá-me “paletes” de prazer!

A salsa, o meu corpo e eu, o triângulo perfeito?

15 Comments:

Blogger Salseira said...

Pois é, tens razão, muitas vezes vivemos dissociados do nosso corpo!

Acho que as pessoas nem se apercebem disso porque não entendem muito bem do que se está a falar. E os problemas que isso trás... O corpo é uma máquina perfeita que deve ser cuidada e da qual devemos tomar consciência. Por outro lado, poucas vezes damos liberdade ao corpo porque a mente é que o controla e, no entanto, na vida há momentos para tudo: para haver uma completa liberdade do corpo e para haver um controlo da mente.

Ora a salsa deve ser vivida com uma total liberdade do corpo. É este que deve comandar e não a mente. Mas é isso que acontece? Nem sempre! Muitos de nós estamos muito conscientes dos outros e por isso ou passamos à fase de exibição ou à de inibição. Estas já dependem de cada um de nós e do nosso estado de espírito no momento. Mas não há dúvida que quando nos abstraímos de tudo é quando as coisas nos sabem e nos saem melhor!

Deixem o corpo mandar um bocadinho! Nem sempre deixei que isso acontecesse mas quando aprendi a libertar-me... que fantástica sensação!!!!!!!

25/8/04 15:57  
Blogger Salseira said...

Pois é... nem tinha reparado!

"A salsa, o meu corpo e eu"... não falta alguma coisa aí? A não ser que estejas a falar de Men Styling! ;)

25/8/04 17:55  
Blogger Salseira said...

Também concordo que cada vez mais se idolatra o corpo... e, no caso de muitos, nem é preciso colocar aspas! :)

Mas isso não quer dizer que nos associemos ao corpo. Olhamos para ele de fora e achamos que precisa de emagrecer, ou de ficar mais tostadinho, ou de ficar mais firme, ou... Mas na realidade não nos sentimos associado a ele. Não tentamos perceber se o nosso corpo está em consonância connosco.

Eu não sou nenhuma elegância e sinto-me em consonância com o meu corpo. E este sentimento só veio com a salsa. Aprendi a estar em equilíbrio com o meu próprio corpo. Aprendi a sentir com o corpo!

Isto faz sentido para vocês?

Quanto à exibição: de exibicionistas todos os salseiros têm um pouco e alguns têm demais... concordo a 100% contigo Cubanita.

Quanto à inibição: ainda hoje, por vezes, me sinto inibida quando danço com um par que dá mais largas à imaginação! :)

26/8/04 09:45  
Blogger Salsaholic said...

:)
É verdade freedancer... falta algo no triângulo perfeito, falta o nosso par. Apesar de eu ter automaticamente incluído o par no vértice "salsa" do triângulo (exisitirá salsa sem o par?!), ele é também o objecto do meu próximo tópico...

Não foi uma atitude narcisista (ou pelo menos espero que não tenha sido); mas foi precisamente quando escrevi a última frase deste tópico que decidi que o meu próximo post será intitulado "Tu", dedicado à pessoa com quem danço.

26/8/04 09:48  
Anonymous Anónimo said...

Em primeiro lugar, quero dar-te os parabéns pela saudável continuação deste blog!

Gostei deste tópico! De facto, vivemos dissociados do nosso corpo e não são as operações de estética que nos aproximam dele: estas não só se limitam à aparência como principalmente são baseadas em conceitos exteriores a nós: sermos atraentes aos olhos dos outros! Mais ainda, por vezes estas operações de estética até nos afastam do nosso corpo: não gostamos dele porque somos baixos, não conseguimos emagrecer, o bronzeado não ficou com o tom que gostaríamos, etc...

Quanto ao triângulo perfeito... não sei se foi uma atitude narcisista ou não, mas também para mim, falar em salsa é indissociável de falar no par por isso talvez não te tenhas explicado bem... aguarda-se então o "Tu"...

Benjamim

26/8/04 10:00  
Blogger Salseira said...

Entretanto, lembrei-me de uma associação...

Aquilo que vou dizer baseia-se em coisas que li e não em conhecimentos práticos por isso pode haver erros na minha ideia e por esses peço, desde já, desculpa.

Quando estamos a iniciar uma aprendizagem da meditação, há dois aspectos fundamentais que são abordados em todos os textos que já li sobre o tema: um é a tomada de consciência da nossa respiração e o outro é que podemos meditar mesmo não estando parados, bastando para isso tomarmos consciência de tudo aquilo que fazemos. Ou seja, meditar será estarmos plenamente conscientes de tudo o que fazemos, deixando os pensamentos passarem por nós sem os determos.

Ora, penso que será esta a ideia relativamente ao tomarmos consciência do nosso corpo: estarmos atentos a tudo o que fazemos sem deixarmos que os nossos pensamentos se tornem um obstáculo. Sejam pensamentos que não têm nada a ver com o corpo, seja pensamentos que têm a ver com a forma do nosso corpo.

Assim, se dançarmos sem pensar, tomando apenas consciência dos movimentos do nosso corpo, estamos a associar-nos a ele...

Isto faz sentido? Não sei se faz... mas na altura pareceu-me que sim! :)

26/8/04 10:16  
Blogger Salseira said...

Engraçado...

há coisas que fazem muito sentido na nossa cabeça mas que quando pssamos para o papel, ou as dizemos, já não fazem assim tanto sentido.

Eu, quanto mais leio o que escrevi sobre a meditação e a associação que fiz com o tópico em questão, mais acho que não faz o sentido que fazia quando era um pensamento só meu...

26/8/04 16:34  
Blogger Salseira said...

Eu não acho que os salseiros se preocupem menos com a imagem do que o resto das pessoas... até diria o contrário...

É mais uma questão de estar o corpo para um lado e a mente para o outro. Como se uma coisa não fizesse parte da outra. Eu percebo a ideia mas não consigo explicá-la...

Mas um salseiro, em princípio, até está mais associado com o seu corpo do que um não salseiro!

26/8/04 17:14  
Blogger Salseira said...

Cubanita...

realmente o salseiro preocupa-se mais com a imagem do que com o corpo e foi da imagem que falei. No entanto se o dormir mal faz mal ao corpo o exercício faz bem... e a quantidade de exercício que fazemos numa noite... ui, ui!

Agora, quanto ao assunto associação/dissociação, talvez te possa dar um exemplo prático sem recorrer à salsa...

O exemplo é o sexo. Todos sabemos que há mulheres que têm dificuldade em ter prazer numa relação (homens também mas falamos mais das mulheres). Ora, a maior parte das vezes isso acontece por haver uma dissociação do corpo e da mente. O corpo quer aquele momento, quer aproveitá-lo bem, mas a mente, seja por que motivo for, afasta-se do momento e pensa noutra coisa. Aí fica o corpo para um lado e a mente para o outro e a coisa torna-se complicada. Se a mente estivesse associada ao corpo, desejaria aquele momento tanto como ele, concentrar-se-ia só no que estava a ser feito, deixaria todos os outros pensamentos simplesmente fluirem e as coisas seriam fantásticas.

Fiz sentido?

27/8/04 09:42  
Blogger Salseira said...

"I rest my case." Já não sei como explicar...

27/8/04 11:47  
Blogger Salsaholic said...

Olá Cubanita.

Volto a pegar no exemplo do carro que me parece ser pertinente:

O que quis diferenciar aqui foram dois tipos de situações; as pessoas que lavam o carro e aspiram-no regularmente e aqueles que têm o cuidado de ver o óleo, a pressão dos pneus, a água da bateria, do radiador, etc... São dois tipos de atitudes diferentes: uns cuidam do aspecto exterior, os outros do carro em si. O mesmo se passa com o nosso corpo. Eu sinto que cada vez mais somos levados a “lavarmo-nos” e “aspirarmo-nos” cuidando do aspecto exterior e cada vez menos olhamos para dentro do nosso corpo. Escutar o nosso corpo, conviver com ele...

É comum ver no ginásio pessoas sentadas nas bicicletas, fazendo o seu exercício enquanto conversam com os outros, lêem uma revista ou vêem televisão, estrategicamente colocadas em frente a cada bicicleta para que as pessoas não se fartem! Embora estejam a fazer exercício, a dissociação entre o corpo e a mente é TOTAL! Depois temos as aulas de aeróbica, onde apesar de mexer o corpo ao ritmo da música, tal como o nome indica o objectivo é fazer um exercício aeróbico, ou seja, movimentos amplos de todos os grandes grupos musculares de forma continuada. Aqui, a atenção volta-se para dois parâmetros essenciais: a respiração e a coordenação. Associação entre corpo e mente?.... talvez alguma... pessoalmente não creio muito. Na ponta oposta, a meditação. Sem música, sem movimento. Apenas a mente, tentando chegar ao corpo. Associação entre corpo e mente? Sem dúvida.

Pensar nos movimentos que se está a fazer numa determinada altura não é comunhão entre corpo e mente, é concentração. Eu refiro-me a ouvir o corpo, senti-lo para além dos músculos e usá-lo como um todo.

Pode imaginar-se um gráfico X/Y que relacione o trabalho do corpo com o trabalho da mente. Ao tentar colocar as várias actividades que descrevi (bem como muitas outras), facilmente identifico a salsa numa posição privilegiada onde se atinge um máximo de ambos os parâmetros. Como disse, não será a única, não é certamente perfeita, mas é aquela que me move com paixão.

De resto, qual a hora normal para fazer exercício? Qual a hora normal para fazer sexo? Se consigo tirar 4 horas numa noite para dançar, para mim... é normal :)

E... cubanita, onde costumas ir dançar à noite?... Numa noite de salsa, a maioria das pessoas não fuma, a maioria bebe água. Parece-me muito saudável.

No entanto, se me disseres que preferes levantares-te às 7h, ires ao ginásio fazer bicicleta e dormir cedo à noite.... também me parece óptimo! Julgo que o mais importante é cada um descobrir aquilo que lhe dá prazer... A mim... é a salsa!

27/8/04 12:02  
Blogger Salsaholic said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

27/8/04 12:02  
Blogger Salseira said...

E pronto... tá tudo dito! :)

Aquela coisa que eu disse de dar atenção ao que se está a fazer como uma forma de meditação li num livro sobre meditação. Não sei se é assim ou não até porque nem sei se ando a ler os livros certos. Mas vou pescando aqui e ali e tirando as minhas conclusões... se calhar erradas... eheheheh!

27/8/04 12:20  
Blogger Salseira said...

Espera... não quero se mal interpretada...

Está tudo dito para mim, na defesa de uma ideia em que eu acredito. Não quis dizer: "está tudo dito atingiu-se a única verdade", ok?

27/8/04 12:22  
Blogger Salseira said...

O exemplo do carro é muito bom!

Vejamos, há quem se preocupe mais com lavar o carro, há quem se preocupe mais em fazer as revisões todas ao carro, há quem se preocupe com as duas coisas e quem não se preocupe com nada.

Mas, à parte isto, há quem escute o carro. Quem, enquanto conduz, se aperceba da mais pequena alteração na performance do carro, se aperceba de todos os ruídos, ou, se não houver ruídos, da forma limpida como o seu carro trabalha. São aqueles que conduzem ouvindo o carro, que mudam da primeira para a segunda, da segunda para a terceira, novamente para a segunda, etc, etc, não porque o conta-rotações pede mas porque o motor pede.

E depois há aqueles que nunca ouvem o motor, que não se aperecebem de um único ruído e que se não tivessem o conta-rotações davam conta do motor.

Os primeiros são como aqueles que estão associados ao seu corpo. Os segundos são como os que estão dissociados.

E, como poderá provar o exemplo, nem uma coisa nem outra quer dizer que se descure a máquina que é o nosso corpo, tanto visualmente como internamente. Embora, aqueles que estão associados com o seu corpo, estejam à partida mais preocupados com o facto de este ser saudável ou não.

É indiscutível que cada vez nos preocupamos mais com o nosso corpo mas nem sempre o ouvimos. Conheço quem se tenha passado a preocupar com o seu carro e, ainda hoje, não saiba conduzir sem olhar para o conta-rotações! :)

27/8/04 13:50  

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