segunda-feira, maio 07, 2007

Agri-doce

Salsa cruel

Que me expões, me desnudas frente a todos, tiras-me as máscaras e me amarras à dura realidade, não me permites imaginar coisas que não sou, obrigas-me a aferir o meu estado actual, não me deixas olhar de cima, esmagas-me com a tua frontalidade, confrontas-me com a tua pureza e fustigas-me com o teu ritmo.

Salsa querida

Que me enches de prazer, fazes-me flutuar e pairar no ar, deixas que me entregue por completo a ti, dás-me energia, tornas os momentos perfeitos, fazes-me uno contigo, elevas-me, fazes bater o meu coração ao teu ritmo e me unges da cabeça aos pés.

terça-feira, março 20, 2007

Não !

Como não dançar salsa.
Como não conduzir.
Como não fazer um show.
... Não...

quarta-feira, março 07, 2007

Aguaceiro triste

"Lluvia cruel...

Era una tarde gris
Cuando empezo a caer
El aguacero aquel, que te trajo hasta mi
Era una tarde gris
Y la lluvia cayo
Y como se mojo, lo que sentia por ti

Y caminan dos amantes bajo el aguacero muy enamorados
Y yo sufriendo en silencio...
Por que no estas a mi lado, y sufro

Cada gota de lluvia caida
En una tarde gris
Se ha llevado un poco de tu amor

Debajo del aguacero
Pero las lagrimas no se notan
Y mi corazon se muere...
Lentamente... gota a gota

Cada gota de lluvia caida
En una tarde gris
Se ha llevado un poco de tu amor

...Lluvia Cruel"



Esta salsa, dos "El Gran Combo de Puerto Rico" é tão bonita quanto triste.
Ao escutá-la, podemos ter uma das seguintes atitudes:
- Ficar triste pela letra.
- Ficar radiante pela beleza da música.

A decisão de ficar triste ou alegre está sempre dentro de nós.
Cabe-nos apenas a nós decidirmos em que parte da música nos vamos concentrar...


segunda-feira, janeiro 22, 2007

Transe

Os nossos corpos unem-se.

Procuramos o equilíbrio entre ambos que nos permite flutuar como um só. O meu espaço envolve o teu e o teu envolve o meu. A música entra em nós; eu começo a mover-me, mas o meu movimento inicia-se em ti. Momento após momento, a ligação entre os nossos corpos cresce e tudo desaparece à nossa volta. Só fica a música e esta energia que nos guia. As músicas sucedem-se e o toque do teu peito no meu ajusta-se num equilíbrio perfeito… Entra-se numa fase de transe. Tu abandonas-te à condução e eu abandono-me a ti. Somos um pequeno ponto nesta imensidão que nos rodeia, flutuando ao longo das linhas de energia que nos guiam o movimento e o pensamento. Neste transe, tudo sai perfeito, nada sai de nós.

Quando os nossos corpos são levados a parar, retomo a consciência da respiração e da minha presença.

Agradeço-te… “Obrigado, até à próxima dança”

sexta-feira, janeiro 05, 2007

O poder na salsa

O poder na salsa está detido num palácio… O palácio da salsa é um labirinto de salas ligadas umas às outras. Não tem janelas e não se vê nenhuma porta.

A tua primeira tarefa é descobrir como entrar. Quando resolveres este problema, quando entrares como um suplicante na primeira antecâmara da salsa, vais encontrar um homem com cabeça de chacal que tentará expulsar-te da salsa. Se conseguires lá ficar, tentará devorar-te. Se lhe conseguires fugir, entrarás numa segunda sala, desta vez guardada por um homem com cabeça de cão raivoso, na sala a seguir encontrarás um homem com cabeça de urso esfaimado e assim sucessivamente. Na penúltima sala, está um homem com cabeça de raposa. Esse homem não te impedirá de passares à última sala, onde se encontra a verdadeira salsa. Em vez disso, tentará convencer-te que já estás nessa sala e que essa salsa é ele. Se conseguires vencer a manha do homem raposa e avançares, chegas à sala da salsa. A sala da salsa é modesta e lá dentro estará A Salsa que te encarará em silêncio. Tem um ar pequeno, insignificante, tímido; agora que vencestes todas as suas defesas, terá de satisfazer os teus desejos. A regra é essa.

Mas, quando saíres, o homem raposa, o homem urso, o homem cão e o homem chacal já lá não estarão. Em vez deles, verás as salas cheias de monstros alados semi-humanos. Fazem voos picados e tentam arrancar-te o teu tesouro. Cada um arranca um pedacinho. Quanta salsa vais conseguir trazer para fora do palácio? Debates-te, escondes o tesouro com o teu corpo. Eles cravam-te nas costas as suas garras azuis e brancas, brilhantes. E quando lhes conseguires escapar e já estiveres cá fora, encadeado pela luz do dia e agarrado ao que resta do tesouro despedaçado da tua salsa, terás de convencer a multidão céptica, essa multidão invejosa e impotente, que trouxeste contigo tudo o que querias. Se não o conseguires fazer, ficarás para sempre um falhado.


Adaptado de um conto de Sun Tzu

terça-feira, janeiro 02, 2007

Nas entranhas

O som da salsa acompanha-me em todos os instantes.
Soa forte junto ao meu ouvido quando estou feliz
Soa suave e seguro se estou triste
Soa se estiver atento
Soa mais forte se estiver desatento.
Acompanha o ritmo da minha vida
E vivo de acordo com o seu ritmo.
Salsa, cujo som se entranha em mim
Percorre o corpo e sangra de desejo
Transpira-me e envolve-me
Com o teu som em todos os instantes.

Na salsa, como na vida…

quinta-feira, dezembro 21, 2006

O livro em branco

Cada ano, cada dia, cada momento, cada salsa é uma nova página em branco.
Uma oportunidade para criar novamente, um perpétuo desafio interior.
Cada página pode ser deixada em branco, ou ser intensa da primeira à última linha.
O destino de cada uma está simplesmente e cruelmente nas nossas mãos.

Duas únicas certezas cada vez que iniciamos uma nova página:
Não podemos voltar a escrever a anterior.
A nova página é sempre colocada sobre a pilha de todas as páginas anteriores.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Segurança

Nestes últimos dias o blog tem sido alvo de imenso SPAM; por este motivo, vi-me obrigado a incluir uma medida de verificação cada vez que alguém coloca um "comment".

Peço desculpa pelo incómodo, mas penso que seria bem mais incómodo termos publicidade em cada tópico...

Boas festas.

Salsaholic

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Oh Oh Oh!

O Natal é:




O Natal não é:



Mas o Natal, também é altura de:



Boas festas, boas salsas...

domingo, novembro 27, 2005

A evolução do gosto

Na salsa, como na vida, começamos por gostar das salsas que todos gostam, aquelas que mais facilmente ficam no ouvido. Com o passar do tempo, a nossa relação com a salsa começa a crescer; começamos a gostar de mais tipos de salsa, procuramos conhecer mais compositores, já identificamos alguns estilos de salsa e preferimos uns em detrimento de outros.

Mais tarde, embrenhamo-nos a fundo na salsa - salsa dura, latin jazz, timba, procuramos conhecer todas as ramificações da salsa acabando por procurar a fundo as áreas que mais nos tocam. Despertamos para todos os instrumentos que soam, conseguindo desfrutar cada um deles descobrindo assim sons maravilhosos onde antes ouvíamos uma salsa estranha, densa e sem ritmo.

Pouco a pouco, descobrimos a árvore da salsa, com todas as suas influências afro e jazz, toda a riqueza de um ritmo tão vasto e diversificado. Sentimo-nos envolvidos na sua ramagem e queremos comungar das suas raízes. Ao descobri-la, amamo-la.

Este crescendo de vivência da salsa permite-nos tirar muito mais partido da dança; sentimos a música de forma diferente, deixamos que a sonoridade guie os nossos passos, que a percussão interprete os nossos movimentos que o ritmo da salsa controle a batida do coração.

Tal como o amor evolui, cresce, transforma-se e envolve, também a salsa o faz.

Começamos por nos apaixonar pela ponta do dedo e acabamos por amar o todo.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Nomina sunt odiosa

Os nomes são inoportunos

A propósito de um livro que acabei agora mesmo de ler, no qual esta expressão pauteia o desenrolar dos acontecimentos, decidi aproveitá-la para comentar uma interpretação distinta.

Por vezes perdemos demasiado tempo a tentar nomear aquilo que sentimos, em vez de simplesmente sentirmos… Salsar traz-nos um prazer indescritível, transforma-nos, liberta-nos, faz-nos felizes.

Será mesmo fundamental tentar perceber se a salsa me transformou, me libertou ou me retirou a máscara? Normalmente, a verdade reside num ponto de intersecção destes 3 aspectos. O meu EU verdadeiro é aquele que entra no Salsaplace ou aquele que sai? No entanto, o que é mais importante? Interpretar o que sinto ou sentir? Sentir sem dúvida; sentir, sorrir e salsar.

Os nomes são inoportunos; há que aproveitar o momento e vivê-lo, dançá-lo plenamente.

Carpe diem.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Dar-te a volta

Ao dançar, tantas são as vezes que te dou a volta; ao som da salsa, faço-te girar vezes sem fim. Mas na vida, és tu que me dás a volta.
Fazes-me voltar para trás e compreender os erros que fiz.
Fazes-me voltar para ti, salsa da minha vida.
Fazes-me dar a volta a todas as músicas que não interessam.
Dás-me a volta, encarando cada batida de frente.

Na pista dou-te a volta em equilíbrio, ao som da música. Na vida és tu que me dás a volta e me viras para ti e para a frente, ajudando-me assim a manter o meu equilíbrio.

Nós damos a volta à salsa, mas a salsa também nos dá a volta a nós. Eu dou-te a volta e tu dás-me a volta a mim.

Na salsa… como na vida.

quarta-feira, outubro 05, 2005

Salsa que me acompanhas

Obrigado salsa que me acompanhas
Todos os momentos da vida
Que sabes ouvir-me, orientar-me e até perdoar-me
Mas que não paras de tocar

Obrigado salsa que me acompanhas
Por vezes romântica, outras vezes dura
Sabes escolher a batida certa para mim
E fazes-me crescer contigo

Obrigado salsa que me acompanhas
Que bom que é adormecer e acordar
Comer, passear, conversar,
Envolvido no teu som

Obrigado salsa que me acompanhas
Que me ajudas a esquecer
Velhos ritmos ultrapassados
E juntos fazemos crescer a salsa que amamos

Para ti minha salsa minha vida
Som que envolve o meu ser
Obrigado por me acompanhares
Obrigado por me fazeres feliz.

quinta-feira, setembro 29, 2005

Tu

Começa a música; a clave ecoa dentro do meu corpo e fá-lo vibrar. Percorro a sala com um olhar e lá estás tu, de pé, também a sentir a clave que bate dentro de ti. Antes de dar por isso já atravessei rapidamente a sala e estendi-te delicadamente a mão. Faz-se a ligação. As nossas batidas começam a harmonizar-se. Frente a frente, a clave, tal como uma rajada de vento, desloca-nos num passo base preparatório. Sinto a tua mão, e através dela o teu corpo. A pouco e pouco, o teu corpo abandona-se à condução, os teus gestos parecem fluir não de ti, mas directamente da música. O teu olhar cruza-se com o meu e isola-nos do mundo. Ficam a música, tu e eu.

Quando me apercebo, já não sou eu que conduzo. Leio a tua mão, leio o teu olhar e és tu que pedes o próximo movimento.

Surge um sorriso na tua cara que ilumina o espaço em que dançamos. A música parece estar a sair de dentro de ti. Eu abandono-me também à música, a ti. Quem será que está a conduzir esta dança? Não há pressão entre as nossas mãos, um corpo torna-se a continuidade do outro. Uma música, um par, um corpo.

Tenho de voltar á terra. Tu fazes-me flutuar e esquecer-me de tudo... mas há outros pares na pista a dançar e alguns bem pouco cuidadosos. Mas não consigo voltar á terra; vou entreolhando os outros pares mas sinto que o nosso balão já partiu. Durante grande parte da música, não sinto nada, sinto tudo. Não penso em nada, penso em ti, penso na música, penso em tudo.

Será que estás a sentir o mesmo que eu? Eu já não sinto o meu corpo, já não sinto o teu. É a metamorfose perfeita. E esse teu sorriso que cresce. Ouvem-se risos: foste tu ou fui eu que o soltou? Devo ter sido eu, pois é um prazer dançar contigo, sentir a delicadeza, a força, a fragilidade e a energia das tuas mãos. Rodamos para a um lado, rodamos para o outro, os braços giram e voam, mas sempre se encontram com precisão, firmeza e sensualidade. Como disse uma vez um grande actor num grande filme: “You make me wanna be a better man”...

De repente, termina a música... cada um de nós flui de novo para dentro do seu próprio corpo. Olhando para o teu sorriso, só consigo dizer “obrigado”. Um último olhar de uma cumplicidade que começou e acabou com a música. Foste a minha deusa nesse período.

Começa a próxima música; a clave ecoa...

segunda-feira, setembro 19, 2005

Gestão egocêntrica do espaço

Hoje aconteceu-me um episódio no mínimo curioso:

Estava a conduzir, descendo uma rua relativamente larga, quando em sentido contrário vem um carro completamente fora de mão, com a quase totalidade do carro já para cá do traço que separa os dois sentidos. Apitei, não só para chamar a atenção do condutor mas também para evitar que ele se chegasse ainda mais para a minha faixa.

O condutor parou o carro e perguntou com ar supreso/chateado “O que foi?” ao que respondi “O Sr. vem a subir fora de mão!”. A resposta não se fez esperar: “Porquê? Esse espaço aí não lhe chega para passar?”….

Naturalmente, perante este tipo de comentário nem respondi e segui viagem.

Se eu tiver razão quando digo “na salsa, como na vida”, então está explicado o que muitos salseiros deverão pensar sobre a gestão do espaço de dança numa noite em que a pista está cheia…

:(