sábado, outubro 30, 2004

Ao (des)sabor da corrente

Por vezes, na salsa, a música muda e entorpece-me. Durante um crescendo de prazer, em que tudo parece perfeito, a música puxa-me o tapete. Inexplicavelmente, muda a música; muda a música, muda tudo. Perco o prazer de dançar, perco-me a mim. Sinto-me amarrado a uma letargia forçada. Tento reagir, mas a salsa é suprema. Os seus tentáculos envolvem-me, agora não numa orgia de sensações, mas abafando-me e isolando-me. Porquê, minha salsa?

Agora que julgava saber todas as respostas, mudaram as perguntas...

Terei de me resignar à espera que também de forma abrupta a música volte a mudar?
Rejuvenesço a dançar, envelheço neste torpor. Enquanto presiste este ritmo monocórdico, dilúi-se a memória da última salsa que dancei. Que saudades de me abandonar à salsa, de dançar intensamente. Ó música. porque mudaste?

Aquilo que maior prazer me dá, tem o poder de o poder retirar... Poderá a salsa ser injusta?

Não, não quero prolongar mais esta dor, não vou cair na letargia do hábito. Ahhhh... ouvem o mesmo que eu? É aquele instante antes de acontecer algo, durante o qual sentimos a sua aproximação. A música está prestes a mudar. Agora. O cansaço do corpo escorre, consigo erguer uma mão e tocar de leve na música... Oh, salsa, inspira-me! Deixa-me louvar-te, deixa-me erguer-me e erguer-te. Após a primeira batida, tudo isto estará já esquecido e abandonar-me-ei à salsa... ou não?

Na salsa... como na vida.

2 Comments:

Blogger Salseira said...

Salsaholic,

Será a música que muda? Ou serás tu que mudas a tua forma de ouvir a músicas?

Será que a música te oprime? Ou será que tu te oprimes a ti próprio e achas que é a música?

Na Salsa... como na Vida!

4/11/04 16:40  
Blogger Salsaholic said...

Salseira.... sim e não :)

Desta vez, aquilo que me levou a escrever este post foi claramente uma rasteira da música: mudou quando nada o fazia esperar.

Por vezes, admito, sou eu que mudo a forma de escutar a música. As razões são várias: a pista está vazia e tenho vergonha de ir dançar, não quero dançar com a pessoa que se dirige a mim para me convidar, tenho medo de dançar com uma determinada salseira porque ela é uma “deusa da salsa” e muitos outros motivos que apesar de não serem muito válidos, eu sinto-os...

A música nunca nos oprime “tout court”; nós é que nos deixamos por vezes oprimir por ela. Não pretendo afirmar que não me deixo por vezes oprimir pela música; nem sequer pretendo afirmar que aspiro a nunca me deixar oprimir pela música. Tenho no entanto a esperança de conseguir, em cada vez que me deixar oprimir por ela, tirar uma lição, aprender, crescer, de forma a que seja cada vez mais difícil travar a minha dança.

Na salsa... como na vida

5/11/04 12:35  

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