sábado, abril 09, 2005

Sentir antes de sentir

Por vezes, durante uma dança, a fluidez com que os passos são feitos leva a crer que ambos adivinham o passo seguinte antes deste ser feito. Como se pode obter este tipo de harmonia quase perfeita durante uma dança? Como chegar ao ponto em que deixamos de saber se somos nós que conduzimos ou é a música que o faz?

Por vezes, o homem centra a sua atenção nos movimentos que deve fazer; por vezes, o homem centra-se no ritmo da música; por vezes a mulher centra-se no seu styling; tantas são as vezes em que a atenção do par está tão longe do ponto fulcral: a ligação entre o par. Claro que para chegar a este ponto, há que percorrer um caminho. Inicialmente, todos temos de estar mais concentrados nos movimentos que estamos a fazer do que em qualquer outro aspecto da dança. Mas esta é, ou melhor, deveria ser uma fase transitória. Enquanto bebés a nossa maior preocupação ao andar seria o equilíbrio para colocar um pé à frente do outro; felizmente, hoje não andamos assim… evoluímos. Na salsa, como na vida, deveríamos procurar fazer o mesmo.

A nossa vontade prolonga-se para além do nosso corpo. Propaga-se pelo olhar, pelo toque e até pelo espaço... O espaço ocupado pelos dois corpos que dançam deve ser um templo. Um templo onde duas vontades, duas energias se cruzam e se harmonizam. Da mesma forma que duas pessoas que caminham lado a lado harmonizam a passada e mesmo o ritmo de respiração. Ao estar alerta para esta forma de harmonia, a ligação entre um par torna-se “sentir antes de sentir”, “fazer depois de estar feito”. Cada movimento executado é fruto daquilo que a ligação entre os dois dita. Não tem origem na vontade de um, não tem origem na vontade do outro; tem origem no toque, no olhar e no espaço entre ambos. Fazer um movimento… depois de ele já estar feito e sentido… como pode correr mal?

Esta é a essência da salsa.
Esta é a essência da vida.

2 Comments:

Blogger Salseira said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

11/4/05 19:49  
Blogger Salseira said...

Exprimiste por escrito uma coisa que tantas vezes me passa pela cabeça: como é que é possível às vezes os passos saírem tão perfeitos que parece que se estava adivinhar o que ia saír?

Provavelmente é mesmo como dizes: "sentir antes de sentir".

Gostava que na vida também fosse assim... mas a maior parte das vezes não é!

Essa empatia acho que só mesmo na salsa!

11/4/05 19:50  

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